sexta-feira, 22 de julho de 2011

A Esquerda Democrática e a questão ambiental

Por um Coletivo Ambientalista na ED

Minha resposta ao Documento do Companheiro Koutzi é propor a organização e estruturação de nossa militância, de forma a coerentemente constituirmos um coletivo de esquerda para intervir na sociedade brasileira, por dentro do PT, para daí podermos recuperar a companhia do companheiro, pois creio que seja esta a questão levantada por ele, a qual temos a obrigação de responder, não apenas teoricamente, mas também na prática.

Uma Questão de Coerência
Uma corrente política de esquerda tem que possuir em suas bases programáticas aqueles elementos que representem à construção que a humanidade vem produzindo desde o Manifesto Comunista, pelos trabalhadores organizados na luta por uma sociedade socialista.

Porém nestes mais de 100 anos, não só o capitalismo, mas também os países do bloco socialista colocaram a questão do desenvolvimento econômico e da geração de riquezas acima de qualquer coisa, a única diferença foi na discussão sobre o grau de distribuição de parcela desta riqueza.

Para defenderem isto, consolidaram o pensamento do produtivismo, onde para cada novo indivíduo que a sociedade gera, se faz necessária a produção da respectiva riqueza para que o mesmo se mantenha, pois para que este seja pleno, deverá quando adulto entrar no mercado de trabalho, para que ele tenha acesso a tal possibilidade, a infra-estrutura a ser gerada pela sociedade demandará recursos financeiros e naturais, gerando riquezas indiretas, ou seja, mais postos de trabalho gerando uma espiral infindável de ações, resultando que o crescimento passa a ser uma necessidade sistêmica e não mais uma decorrência de disponibilidade da natureza e nem mesmo uma necessidade social.

Para produzirmos cada vez mais, precisamos aumentar a demanda também, pois nesta lógica se produzirmos bens de longa duração, não teremos o consumo e, portanto não teremos o consumo, sem a geração de emprego e da renda respectiva, para tal a sociedade teve que alterar aspectos culturais, entendida a cultura, como os hábitos do dia-a-dia, estes foram se transformando dentro desta lógica, forjando a criação de um ser, dito humano, que se estruturado sob a concepção de que tudo se produz-consume-descarta, fazendo gerar uma prática insustentável amplamente absorvida na cultura predominante.

Desta forma um Programa de Esquerda tem que dar uma resposta à questão do Modelo de Desenvolvimento que queremos, não só do ponto de vista sócio-econômico, mas também humano e ambiental, por isso entendemos que a criação de um Coletivo Ambientalista dentro da ED como sendo uma proposta vital, para darmos coerência as nossas propostas políticas.

O Momento Político
As várias crises econômicas que rotineiramente enfrentamos, além de demonstrar claramente a farsa das chamadas leis do mercado, pois o mercado é regulado pela ação de quem o domina e não, como eles anunciam, como se ele fosse um ente acima de todos, deve também levar a uma reflexão sobre o modo de produção, mas mais especificamente sobre o que produzimos e como.

A tal visão desenvolvimentista levou-nos produzir pela necessidade de geração de riquezas, independentemente de qual a função social do que foi produzido. Pelo atual sistema econômico, tanto faz produzirmos remédios e alimentos, como cigarros e gomas de mascar, aliás, como os cigarros possuem uma tributação maior, para o Estado, o melhor seria aumentar a produção de cigarros do que outros gêneros mais importantes para a espécie humana, mas que gerem mais impostos. Um real (R$1,00) comercializado de qualquer produto é computado igualmente no tão importante indicador Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, se todos os brasileiros fumarem mais, mais facilmente o país atingirá o tão sonhado 4% de crescimento do PIB, ainda mais, pois gerará mais doença e com isto gerará mais PIB ainda, com a produção de remédios, com o atendimento médico, não importando se as filas para o atendimento para doenças de veiculação hídrica e a falta de saneamento se agravam (até parece que já vimos isto em algum lugar do mundo).

Qualquer pequena crise e todos os grandes investimentos que os senhores donos do capital iriam realizar, com a geração de muitos empregos se vão pelos ares, mas estes investimentos só se tornam realidade se houver mais consumo, e um consumo que cresça não somente no mesmo nível que o crescimento da população, pois o PIB tem que crescer acima do crescimento populacional, dentro desta lógica, somente aumentando a produção de bens que não durem, pois além de consumirmos mais, temos obrigatoriamente que descartarmos mais, para garantirmos que a economia circule e cresça.

Os momentos de crise podem ser um bons momentos para pensarmos quantas coisas passamos a não comprar e que não nos fazem a mínima falta.

Por que o modelo econômico nos leva a produzir e descartar, se ele é para desenvolver visando o conforto da humanidade e não simplesmente o lucro fácil, deveríamos ter um modelo onde àquilo que já atingimos de conforto deva ser mantido e não trocado a cada ano ou mesmo semestre, fazermos os chamados up-grades, ou melhorias, hoje quantas carcaças de computadores são colocadas no lixo por que o encaixe de um detalhe não permite a atualização dos mesmos, até mesmo os softwares, que antes se conversavam entre si, agora a cada novo modelo temos dificuldades crescentes, mesmo para softwares de um mesmo fabricante.

Temos que repensar, a humanidade não precisa parar, mas tem que se especializar na transformação de uma sociedade insustentável para uma cada vez mais sustentável.

Qual o nosso papel nesta história?
Criarmos dentro do PT um amplo debate e propiciarmos que ele atinja as nossas administrações, pois através delas podemos agir sobre uma comunidade muito grande, possibilitando a reflexão sobre os hábitos de consumo, sobre a estrutura social de nossa sociedade, onde através de projetos de economia solidária, ambientalmente adequadas, podemos fortalecer pólos de desenvolvimento sustentável.

Qual o histórico que temos que carregar.
O PT historicamente teve uma militância forte na área ambiental, mas no início até atuava em Associações, depois a prática equivocada de tentar ganhar espaço político, sem propostas coerentes, mas apenas para o desenvolvimento do ego de poucos Petistas, levou o PT a não ser reconhecido como uma alternativa política, pois nossos militantes em pouco realmente contribuíam para a construção do movimento e sempre que possível puxavam o tapete dos próprios companheiros, para poderem provar o quanto estavam mais certos do que o companheiro ao lado, mas isto não é exclusividade do movimento ambientalista.

Nas décadas de 90 e nesta, a participação em Prefeituras, Estados e no Governo Federal nos distanciou mais ainda de nossa base de apoio, sendo que muitos passaram apenas a pensar nelas na hora de pensar o orçamento e como poderiam vir a beneficiá-las, para depois poder garantir o retorno político, mas jamais preocupado com a construção do movimento de suas propostas e de suas lutas.

Como nos Articularmos?
Dentro da ED podemos estruturar nossas propostas, para atuarmos junto à sociedade, ou seja, não se trata de criarmos mais uma entidade ambientalista para os nossos amigos, mas sim termos a consciência de que a luta social se dá através de Associações, sejam elas municipais, de bairro, ou mesmo regionais ou estaduais. Mas o mais importante é a construção do movimento onde devemos atuar com nossas idéias de construção de uma sociedade socialista, justa e sustentável, mas a primeira mudança que devemos nos propor é a mudança da forma como fazemos a política, articular não significa impor, significa ter posição, mas saber abrir mão para a construção em conjunto com um coletivo, que represente uma parcela da mudança que tanto queremos construir, mas que sozinhos, não construiremos nada.

Temos que discutir nossas propostas, agirmos socialmente por elas, mas não nos isolarmos sabendo fazer o debate junto àqueles que dizemos que queremos representar e para o quais dizemos que estamos construindo uma nova Sociedade.

Para iniciarmos creio que uma simples mensagem eletrônica para um endereço que centralize os contatos e poderemos ter uma rede da ED em todo o estado de ambientalista, depois é só serem lançados os textos e as pautas para a discussão, quem sabe em menos de um semestre realizemos nossa Plenária para apreciarmos textos e tirarmos um Plano de Ação.

Colegas da Sindical, do Movimento Comunitário e demais movimentos, movimentê-mo-nos então!

Darci Campani
Esquerda Democrática

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